CNV e Empatia no SUS

Comunicação não-violenta (CNV) e práticas de empatia: experiência com profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) do município de Contagem, MG, Brasil.

Introdução: 

A violência é um fenômeno individual e social complexo, com causas multifatoriais de natureza estrutural e sistêmica, que pode ser entendido como problema de saúde pública. Os efeitos da pandemia da COVID-19 sobre a saúde mental agravou este fenômeno com impacto duplo sobre profissionais da saúde, tanto enquanto alvo desta violência, quanto em sua própria saúde mental. Neste contexto, se faz urgente o desenvolvimento continuado de habilidades socioemocionais e interpessoais junto a profissionais da saúde, focadas na prevenção à violência, cultura de paz, saúde e bem estar humano.

A Comunicação Não Violenta (CNV) se propõe a desenvolver a empatia e a assertividade nos âmbitos intrapessoal, interpessoal e coletivo. Sua prática propicia o autocuidado e o cuidado mútuo, desenvolve habilidades de manejo do estresse, resiliência pessoal e coletiva, cultura de diálogo e gestão de conflitos a partir da escuta e do entendimento mútuos.

Objetivos:

Com o objetivo de promover a prevenção à violência e a promoção de uma cultura de paz, saúde e bem estar, foi desenvolvido o programa de aprendizado prático da CNV: “Novas Tecnologias em Prevenção à Violência e Promoção da Cultura de Paz no Sistema Único de Saúde (SUS)”, voltado a profissionais de diferentes categorias e diferentes pontos da rede de atenção à saúde do município de Contagem (MG), com o propósito de trazer este conhecimento para o dia a dia em seu ambiente de trabalho, na relação com seus colegas e com usuários do SUS.

Temas abordados:

O projeto buscou equilibrar alguns elementos: profundidade de conhecimento, aplicabilidade prática, replicabilidade eficaz e conhecimento emergente, derivados do encontro entre as novas habilidades e a inteligência coletiva, experiência e saber acumulado dos participantes.

O programa contemplou a participação de 100 profissionais entre março e junho de 2022, em quatro etapas. Durante as duas primeiras, Introdução à CNV e Laboratório de Prática, os participantes aprenderam e exercitaram a CNV. Na terceira etapa, Laboratório Criativo, foram desenvolvidos projetos de disseminação dos conhecimentos adquiridos, executados nos locais de trabalho dos participantes. Na última etapa, Laboratório de Multiplicação de Empatia, participaram 82 destes profissionais, que ofereceram 66 oficinas para colegas e usuários do SUS, alcançando 560 pessoas. Foram realizadas três oficinas para grupos de 5 a 30 pessoas, com práticas simples e eficientes de empatia, voltadas ao autocuidado e ao cuidado mútuo, e à resiliência pessoal e coletiva. Cada oficina trouxe a prática da empatia em um dos seguintes âmbitos: intrapessoal, interpessoal e coletivo, fortalecendo a inteligência emocional e uma linguagem focada em sentimentos e necessidades, além de habilidades de auto regulação e co-regulação do sistema nervoso.

Os depoimentos dos profissionais participantes do programa indicaram mais facilidade em lidar com conflitos entre membros das equipes, assim como com usuários do SUS no dia a dia e em situações desafiadoras; aumento do autoconhecimento, da consciência sobre si e da auto compaixão; da capacidade em estar presente e ter encontros mais genuínos, favorecendo a conexão humana; mais facilidade para escutar sem julgamento e compreender o outro em seu contexto de vida, com atenção às suas necessidades; fortalecimento da confiança nas relações entre paciente e profissional de saúde, contribuindo para adesão aos tratamentos prescritos.

Conclusões:

Conclui-se que, sendo a CNV e a prática da empatia habilidades socioemocionais e interpessoais de baixo custo e alta prioridade para o desenvolvimento de profissionais resilientes, empáticos e centrados no usuário, com maior probabilidade de sucesso na promoção de mudanças comportamentais conscientes, como adesão à medicação ou atividade física e prevenção à violência e a promoção de uma cultura de paz, saúde e bem estar humano, esse é um investimento urgente e necessário aos cotidianos dos serviços de saúde.

Autores: Caselato, Sandra; Haasz, Yuri; Simões Leandro, Handula Janine

Trabalho apresentado no Painel: “La Psicología en la prevención y atención a diferentes formas de violencia” durante a “IX Convención Intercontinental de Psicología HOMINIS 2023”, Universidad de La Habana, Cuba. https://www.hominiscuba.com

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