Foco nas coisas boas

Temos uma amiga que não consegue andar de bicicleta. Ela sabe, mas não consegue. Um dia saímos juntos para pedalar. Ela até andava bem num espaço totalmente aberto, mas bastava haver um buraco, um poste ou qualquer obstáculo que, invariavelmente, batia ou caía da bicicleta. Achamos que ela estava fingindo, mas depois percebemos que ela realmente não conseguia evitar os obstáculos uma vez que os via.

Isso na verdade é muito comum. Pilotos de carro de corrida precisam treinar ostensivamente como manter o foco para onde querem ir, do contrário não conseguiriam completar nenhuma corrida, já que sua atenção estaria voltada aos potenciais perigos, como um buraco, uma curva fechada ou outros carros.

Essa tendência a focar nos obstáculos e no que não queremos que aconteça tem um porquê. Pesquisas mostram como a amígdala, parte do nosso cérebro responsável por perceber e classificar o mundo externo, criar associações e atribuir sentido, tende a perceber 9 vezes mais elementos “negativos” e perigosos, do que notar coisas “positivas” e seguras. Nosso organismo está biologicamente estruturado com este importante mecanismo de sobrevivência, que nos faz perceber muito mais os perigos do que outras coisas à nossa volta. Porém, este filtro nos traz também a tendência a enxergar o mundo com certa distorção, como sendo muito mais hostil do que realmente é.

Como tendemos a ver o mundo dentro deste recorte mais restrito e negativo, colocamos aí nosso foco por mais tempo em vez de focar nas coisas positivas, e tendemos a ficar mais reativos, defensivos, recolhidos, estressados, ansiosos ou depressivos do que o necessário. “Vemos o mundo como estamos e não como ele é”, diz o ditado. Precisamos então fazer um esforço consciente para expandir nossa percepção e enxergar também as potencialidades e o que está funcionando em nossas vidas.

Pôr o foco na solução não significa ignorar os problemas, mas enxergá-los dentro de seu real tamanho e tomar consciência também das coisas boas que estão acontecendo e muitas vezes não vemos. Isso nos ajuda a cultivar uma perspectiva mais equilibrada da realidade, manter a esperança e a criatividade para perceber o que é possível fazer dentro do contexto já dado, a fim de lidar melhor com ele e até mesmo transformá-lo. É o que nos faz conseguir andar de bicicleta!

Uma forma de aumentar essa consciência é perceber quando estamos focando apenas no que acontece de negativo e lembrar que apesar de nosso cérebro estar programado a fazer isso, temos o livre arbítrio para fazer diferente. Podemos intencionalmente nos perguntar: “além disso, o que mais posso perceber nesta situação? Quais as coisas boas? Quais as potencialidades e soluções? O que eu gostaria de ver acontecer?”

O foco na solução traz esperança e nos dá energia para seguir adiante com maior potência para ação e transformação do que queremos ver diferente em nossas vidas e no mundo.

*Texto originalmente publicado na Revista Bons Fluídos/Viva Saúde. Escrito por Sandra Caselato e Yuri Haasz.

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