Julgamentos 

Os  julgamentos moralizadores nos afastam da vida e bloqueiam nosso estado natural de compaixão. Uma comunicação impregnada de julgamentos que classificam e condenam contribui para comportamentos que ferem os outros e nós mesmos. 

Marshall Rosenberg, criador da Comunicação Não Violenta, chamou de “comunicação alienante da vida” essa forma de linguagem, que pode ser resumida em quatro tipos: negação de responsabilidade (nossa coluna anterior), julgamentos moralizantes, merecimento e exigências. Os julgamentos moralizadores subentendem uma natureza errada ou maligna nas pessoas que não agem de acordo com nossos valores. Julgamos, depreciamos e rotulamos os outros como “egoístas”, “preguiçosos”, “preconceituosos” etc. Essa linguagem é rica em palavras que avaliam, classificam, diagnosticam e dicotomizam o comportamento dos outros (e também o nosso) como bons ou maus, certos ou errados, normais ou anormais. O foco está em determinar o erro em vez de identificar sentimentos e necessidades.

Por exemplo, Marshall nos explica: “Se minha esposa deseja mais afeto, ela é ‘carente e dependente’. Mas, se eu quero mais atenção do que ela me dá, então ela é ‘indiferente e insensível’. Se meu colega é mais atento aos pormenores do que eu, ele é ‘cricri e chato’. Por outro lado, se sou eu quem presta mais atenção, ele é ‘desorganizado e desatento’”. Em todos esses exemplos, a expressão não contém as necessidades ou sentimentos, e rotula as pessoas de forma a indicar que tem algo de “errado”. 

O pensamento que nos ajuda a transformar essa realidade e reduzir a violência no mundo e dentro de nós se baseia na vulnerabilidade e no reconhecimento e expressão de sentimentos e necessidades tanto nossos quanto das outras pessoas.

O professor de Psicologia da Universidade do Colorado O. J. Harvey realizou uma pesquisa relacionando linguagem e violência em obras literárias de vários países. Ele tabulou a frequência de palavras que classificam e julgam as pessoas e constatou uma elevada correlação entre seu uso e a incidência de violência. Há menos violência em culturas em que as pessoas pensam em termos de necessidades humanas do que onde as pessoas se rotulam de “boas” ou “más”, sendo que as “más” merecem ser punidas. 

Em nossa cultura, estamos acostumados desde crianças com desenhos animados e filmes em que vibramos quando o herói bate ou mata aquele que consideramos malvado. Na base de quase toda violência, verbal, psicológica ou física, entre familiares, grupos ou nações, está um tipo de pensamento que atribui a causa do conflito ao fato de os adversários estarem errados e, portanto, merecerem punição. 

O pensamento que nos ajuda a transformar essa realidade e reduzir a violência no mundo e dentro de nós se baseia na vulnerabilidade e no reconhecimento e expressão de sentimentos e necessidades tanto nossos quanto das outras pessoas. Vamos juntos nessa caminhada de transformação pessoal e do mundo? 

Texto escrito por Sandra Caselato e Yuri Haasz, publicado originalmente na revista Viva Saúde.

 

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