A Banalidade do Mal

A Comunicação Não Violenta nos convida a uma desconstrução dos sistemas de dominação, que reproduzem violências e que foram internalizados em nossa educação e linguagem.

Ao criar a Comunicação Não Violenta, Marshall Rosenberg estudou certos tipos de pensamento e linguagem que nos afastam e nos alienam da vida e de nosso estado natural de compaixão. Essa comunicação “alienante da vida” contribui para um comportamento que fere aos outros e a nós mesmos e pode ser resumida em quatro tipos de linguagem: negação de responsabilidade, julgamentos moralizadores, merecimento e exigências.

Hoje queremos falar sobre a negação de responsabilidade, um tipo de linguagem em que perdemos a consciência de que somos responsáveis por nossos próprios pensamentos, sentimentos e ações e passamos a acreditar que não temos escolha. Utilizamos uma linguagem de negação de responsabilidade quando usamos expressões como “tenho que”, “alguém fez eu me sentir de certa maneira” ou “eu fiz alguém sentir-se de tal forma”.

Para exemplificar as consequências extremas disso, podemos citar o livro “Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal”, em que Hannah Arendt documenta o julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann por crimes de guerra. No livro, Arendt conta que Eichmann e seus colegas davam o nome de Amtssprache para a linguagem de negação de responsabilidade utilizada por eles, que pode ser traduzida por “linguagem de escritório” ou “burocratês”. Por exemplo, se alguém perguntasse por que tomaram certa atitude, a resposta seria “Tivemos que fazer isso pois foram ordens superiores” ou “A política institucional era essa” ou “Era o que mandava a lei”.

Arendt se surpreendeu ao constatar que “o problema de Eichmann era exatamente que muitos [oficiais nazistas] eram como ele, e muitos não eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais”. Ao contrário do que ela imaginava, Eichmann era uma pessoa comum, um ótimo funcionário que cumpria seu dever, movido pelo desejo de ascender em sua carreira profissional, na mais perfeita lógica burocrática. Cumpria ordens sem questioná-las, com o maior zelo e eficiência, sem pensar nas consequências ou assumir responsabilidade sobre suas ações.

A semente dessa violência extrema que foi o holocausto nazista está presente em nossa cultura e linguagem. Perceber quando utilizamos essa forma de comunicação e assumir responsabilidade por nossas ações, pensamentos e sentimentos é uma maneira de viver a não violência na prática e contribuir para a paz no mundo e dentro de nós. A Comunicação Não Violenta nos convida a uma desconstrução dos sistemas de dominação, que reproduzem violências e que foram internalizados em nossa educação e linguagem.

Te convidamos a vir conosco nesta caminhada de reflexão e transformação pessoal e sistêmica!

*Texto originalmente publicado na Revista Bons Fluídos/Viva Saúde. Escrito por Sandra Caselato e Yuri Haasz.

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